
Uma das minhas cenas favoritas do cinema é a final de: "Crepúsculo dos Deuses" de Billy Wilder, nela, completamente ensandecida, a jaz estrela e agora decadente Norma Desmond (Glória Swanson) desce lentamente a escadaria de sua mansão.Na verdade um truque da polícia para faze-la entregar-se pacificamente.A casa está repleta de policiais e reporteres e num gesto de compaixão,Cecil B De Mille (o próprio) convence Norma de que ela está, na verdade, num set de filmagem, em plena produção de "Sansão e Dalila" (que ele filmava realmente, na época).Todas aquelas luzes! todas aquelas camêras! toda aquela gente! que maravilha!! emocionada, Norma pede para fazer um discurso, diz como está feliz em voltar a um set, como jamais abandonará seus fãs.E acima de tudo, como para ela não existe mais nada, "apenas as luzes, as camêras e todas as pessoas a aplaudindo na escuridão".E Norma se dirige a nós e à lente da camêra desaparece num dos mais geniais fade-outs da história do cinema.A experiência essencial de ir ao cinema é o desejo de se sentir "sequestrado" pelo filme, de ser possuido pela presença fisica da imagem, ou como Jean Cocteau,Buñuel ou David Lynch, o cinema é a coisa mais próxima possível do sonho acordado,estamos no escuro, mas de olhos bem abertos! Se um filme for realmente bom,se ele for tudo o que um filme pode ser,ele estará dialogando conosco,horas e horas após a sessão ter terminado,exigindo do nosso cérebro,alma,espírito,ou seja lá o que for, a contrapartida de preencher as lacunas e absorver o que realmente nos toca profundamente.Uma platéia que desperta sonhando conscientemente, é uma platéia interessante,curiosa e perigosa,mas tambem dificil de subestimá-la e de ofender a sua inteligência.Torna-se obrigação dos realizadores, cumprir a sua parte do trato, honrar o investimento de dinheiro (muito dinheiro!) e com o aumento dos ingressos essa responsabilidade aumenta cada vez mais.O que darei em troca das duas horas preciosas da vida e da atenção absoluta pra com essa pessoa que escolheu dedicar à minha visão? Algo inteligente ou tosco? Fascinante ou repulsivo? Estimulante ou emburrecedor? Vale mais meu umbigo ou tocar as outras vidas? Se cada diretor imaginar que ali, bem no escuro da sala, cada uma daquelas pessoas está em alerta, sabendo o que está vendo e porque está vendo, essas perguntas deixam de ser retóricas e passam a integrar um verdadeiro contrato que elevará a todos,dos dois lados da luz da tela.

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