
Aos poucos descobrimos que a grama do vizinho não é mais verde coisíssima nenhuma. Estamos todos no mesmo barco.Há no ar um certo queixume sem razões muito claras.Temos profissão, saúde, família e ainda assim trazemos dentro de nós um não-sei-o-quê perturbador, algo que incomoda, mesmo estando tudo bem.De onde vem isso?Anos atrás, a cantora Marina Lima compôs uma música que dizia:"Eu espero/acontecimentos/só que quando anoitece/é festa no outro apartamento".As festas em outros apartamentos são fruto da nossa imaginação, que é infectada por falsos holofotes,falsos sorrisos e falsas notícias. Os notáveis alardeiam muito suas vitórias, mas falam pouco das suas angústias, revelam pouco suas aflições, não dão bandeira das suas fraquezas, então fica parecendo que todos estão comemorando grandes paixões e fortunas, quando na verdade a festa lá fora não está tão animada assim.Estamos todos no mesmo barco, com motivos pra dançar pela sala e também motivos pra se refugiar no escuro, alternadamente. Só que os motivos para se refugiar no escuro raramente são divulgados. Pra consumo externo, todos são belos, sexys, lúcidos, íntegros, ricos, sedutores."Nunca conheci quem tivesse levado porrada/ todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo".Nesta era de exaltação de celebridades - reais e inventadas – fica difícil mesmo achar que a vida da gente tem graça. Mas tem. Paz interior, amigos leais, nossas músicas, livros, fantasias, desilusões e recomeços, tudo isso vale ser incluído na nossa biografia. Estarão mesmo todos realizando um milhão de coisas interessantes enquanto só você está sentada no sofá pintando asunhas do pé?Favor não confundir uma vida sensacional com uma vida sensacionalista. As melhores festas acontecem dentro do nosso próprio apartamento.

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