domingo, 16 de agosto de 2009


Ele prestou atenção no vento que fazia aquele barulho característico, misterioso e meio abafado. Aquele barulho sempre o fascinava, principalmente se ocorresse no início da madrugada, porque os carros já não passavam na rua, porque já não haviam tantos olhos alertas, porque a maioria das vidas estava reclusa em seus aposentos e assim era mais fácil de ouvir. O som era mais claro e puro daquele jeito. Ouviu mais adiante: os sinos na janela de algum vizinho retiniam, dando um toque alegre ao som do vento. Percebeu a ameaça de chuva entrando pela fresta de janela aberta em forma de frio úmido e ouviu o barulho suave das cortinas pré históricas balançando. Ouviu mais meia dúzia de coisas e esperou, mas de algum modo sabia que ela não viria. Talvez porque ultimamente ele andasse tão incerto e tão fora de si, desconectado de sua própria cabeça para ficar afastado daquele sentimento de não saber em que caminho andar. Talvez também porque por tantas noites cálidas ela tivesse tentado uma aproximação e ele, fechado e resignado consigo mesmo, não tenha feito questão de notar sua presença, outrora tão desejada e bem vinda. Ou ainda porque em certas noites seu estado catatônico tenha toldado não somente teus olhos, mas também seus sentidos e ele mesmo tentando senti-la, falhara miseravelmente. Agora com a chuva caindo e esfriando lentamente as paredes do quarto, ele queria que ela aparecesse, buscando algum vestígio dela nos lençóis, ou em algum cantinho escuro, como se ela fosse dessas que deixam algum rastro. Varreu tudo com os olhos, mesmo sabendo que ela não estava lá e nem tampouco apareceria. A paz naquele instante, naqueles dias, andava visitando outra pessoa e ele esperava sinceramente que essa pessoa a aproveitasse muito bem e desejou poder encontrar seu caminho tão logo, para que assim ele pudesse ir de encontro com a sua paz de espírito novamente.

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