domingo, 31 de maio de 2009

KIDS - Larry Clark


Na hora de cantar todo mundo enche o peito nas boates, levanta os braços, sorri e dispara: "eu sou de ninguém, eu sou de todo mundo e todo mundo é meu também". No entanto, passado o efeito do uísque com energético e dos beijos descompromissados, os adeptos da geração "tribalista" se dirigem aos consultórios terapêuticos, ou alugam os ouvidos do amigo mais próximo para reclamar de solidão, ausência de interesse das pessoas, descaso e rejeição. A maioria não quer ser de ninguém, mas quer que alguém seja seu.
Beijar na boca é bom? Claro que é! Manter-se sem compromisso, viver rodeado de amigos em baladas animadíssimas é legal? Evidente que sim. Mas por que reclamam depois? Será que os grupos tribalistas se esqueceram da velha lição ensinada no colégio, de que "toda ação tem uma reação"? Agir como tribalista tem conseqüências, boas e ruins, como tudo na vida. Não dá, infelizmente, para ficar somente com a cereja do bolo - beijar de língua, namorar e não ser de ninguém. Para comer a cereja é preciso comer o bolo todo e nele, os ingredientes vão além do descompromisso, como: não receber o famoso telefonema no dia seguinte, não saber se está namorando mesmo depois de sair um mês com a mesma pessoa, não se importar se o outro estiver beijando outra, etc, etc, etc.
Embora já saibam namorar, "os tribalistas" não namoram. Ficar também é coisa do passado. A palavra de ordem hoje é "namorix". A pessoa pode ter um, dois e até três namorix ao mesmo tempo. Dificilmente está apaixonada por seus namorix, mas gosta da companhia do outro e de cultivar a ilusão de que não está sozinho. Nessa nova modalidade de relacionamento, ninguém pode se queixar de nada. Caso uma das partes se ausente durante uma semana, a outra deve fingir que nada aconteceu - afinal, não estão namorando. Aliás, quando foi que se estabeleceu que namoro é sinônimo de cobrança?
A nova geração prega liberdade, mas acaba tendo visões unilaterais. Assim como só deseja "a cereja do bolo tribal", enxerga apenas o lado negativo das relações mais sólidas. Desconhece a delícia de assistir um filme debaixo das cobertas num dia chuvoso comendo pipoca com chocolate quente, o prazer de dormir junto abraçado roçando os pés sob as cobertas e a troca de cumplicidade, carinho e amor. Namorar é algo que vai muito além das cobranças. É cuidar do outro e ser cuidado por ele, é telefonar só para dizer boa noite, ter uma boa companhia para ir ao cinema de mãos dadas, transar por amor, ter alguém para fazer e receber cafuné, um colo para chorar, uma mão para enxugar lágrimas, enfim, é ter alguém para amar.
Já dizia o poeta Carlos Drummond de Andrade que "amar se aprende amando" e se seguirmos seu raciocínio, esbarraremos na lição que nos foi transmitida nas décadas passadas: relação é sinônimo de desilusão. O número avassalador de divórcios nos últimos tempos, só veio confirmar essa tese e aqueles que se divorciaram (pais e mães dos adeptos do tribalismo) vendem (na maioria das vezes) a idéia de que casar é um péssimo negócio e que uma relação sólida é sinônimo de frustrações futuras. Talvez seja por isso que pronunciar a palavra "namoro" traga tanto medo e rejeição. No entanto, vivemos em uma época muito diferente daquela em que nossos pais viveram. Hoje podemos optar com maior liberdade e não somos mais obrigados a "comer sal junto até morrer". Não se trata de responsabilizar pais e mães, ou atribuir um significado latente aos acontecimentos vividos e assimilados na infância, pois somos responsáveis por nossas escolhas, assim como o que fazemos com as lições que nos chegam. A questão não é causal, mas quem sabe correlacional.
Podemos aprender amar se relacionando. Trocando experiências, afetos, conflitos e sensações. Não precisamos amar sob os conceitos que nos foram passados. Somos livres para optar. E ser livre não é beijar na boca e não ser de ninguém. É ter coragem, ser autêntico e se permitir viver um sentimento... É arriscar, pagar para ver e correr atrás da felicidade. É doar e receber, é estar disponível de alma, para que as surpresas da vida possam aparecer. É compartilhar momentos de alegria e buscar tirar proveito até mesmo das coisas ruins.
Ser de todo mundo, não ser de ninguém é o mesmo que não ter ninguém também... É não ser livre para trocar e crescer... É estar fadado ao fracasso emocional e à tão temida solidão.

Visionários




"Pensamos demasiadamente e sentimos muito pouco. Necessitamos mais de humildade que de máquinas. Mais de bondade e ternura que de inteligência. Sem isso a vida se tornará violenta e tudo se perderá". "A vida é maravilhosa se não se tem medo dela."




Charlie Chaplin

Eu já perdoei erros imperdoáveis, tentei substituir pessoas insubstituíveis e esquecer pessoas inesquecíveis. Já fiz coisas por impulso, já me decepcionei com pessoas quando nunca pensei me decepcionar, mas também já decepcionei alguém. Já abracei pra proteger, já dei risada quando não podia, fiz amigos eternos, amei e fui amado, mas também já fui rejeitado, fui amado e não amei. Já gritei e pulei de tanta felicidade, Já vivi de amor e fiz juras eternas, "quebrei a cara" muitas vezes! Já chorei ouvindo música e vendo fotos, já liguei só pra escutar uma voz, me apaixonei por um sorriso, já pensei que fosse morrer de tanta saudade e tive medo de perder alguém especial. Mas vivi! e ainda vivo! Não passo pela vida.


Charlie Chaplin

Encerrando Ciclos


Luiz Fernando Veríssimo


Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final... Se insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário,perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver. Encerrando ciclos, fechando portas, terminando capítulos. Não importao nome que damos, o que importa é deixar no passado os momentos davida que já se acabaram. Foi despedida do trabalho? Terminou uma relação? Deixou a casa dospais? Partiu para viver em outro país? A amizade tão longamente cultivada desapareceu sem explicações? Você pode passar muito tempo se perguntando por que isso aconteceu.... Pode dizer para si mesmo que não dará mais um passo enquanto nãoentender as razões que levaram certas coisas, que eram tão importantese sólidas em sua vida, serem subitamente transformadas em pó. Mas talatitude será um desgaste imenso para todos: seus pais, seus amigos,seus filhos, seus irmãos, todos estarão encerrando capítulos, virandoa folha, seguindo adiante, e todos sofrerão ao ver que você estáparado. Ninguém pode estar ao mesmo tempo no presente e no passado, nem mesmoquando tentamos entender as coisas que acontecem conosco. O que passou não voltará: não podemos ser eternamente meninos,adolescentes tardios, filhos que se sentem culpados ou rancorosos comos pais, amantes que revivem noite e dia uma ligação com quem já foiembora e não tem a menor intenção de voltar. As coisas passam, e o melhor que fazemos é deixar que elas realmentepossam ir embora... Por isso é tão importante (por mais doloroso que seja!) destruirrecordações, mudar de casa, dar muitas coisas para orfanatos, venderou doar os livros que tem.Tudo neste mundo visível é uma manifestação do mundo invisível, do queestá acontecendo em nosso coração... e o desfazer-se de certaslembranças significa também abrir espaço para que outras tomem o seulugar. Deixar ir embora. Soltar. Desprender-se. Ninguém está jogando nesta vida com cartas marcadas, portanto às vezesganhamos, e às vezes perdemos. Não espere que devolvam algo, não espere que reconheçam seu esforço,que descubram seu gênio, que entendam seu amor. Pare de ligar suatelevisão emocional e assistir sempre ao mesmo programa, que mostracomo você sofreu com determinada perda: isso o estará apenasenvenenando, e nada mais. Não há nada mais perigoso que rompimentos amorosos que não sãoaceitos, promessas de emprego que não têm data marcada para começar,decisões que sempre são adiadas em nome do 'momento ideal'. Antes de começar um capítulo novo, é preciso terminar o antigo: diga asi mesmo que o que passou, jamais voltará! Lembre-se de que houve uma época em que podia viver sem aquilo, semaquela pessoa - nada é insubstituível, um hábito não é umanecessidade. Pode parecer óbvio, pode mesmo ser difícil, mas é muito importante. Encerrando ciclos. Não por causa do orgulho, por incapacidade, ou porsoberba, mas porque simplesmente aquilo já não se encaixa mais na suavida.Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira. Deixe deser quem era, e se transforme em quem é. Torna-te uma pessoa melhor eassegura-te de que sabes bem quem és tu próprio, antes de conheceresalguém e de esperares que ele veja quem tu és..E lembra-te: Tudo o que chega, chega sempre por alguma razão

Os pescadores sabem que o mar é perigoso e que a tempestade é terrível, mas eles nunca julgaram esses perigos como razão suficiente para permanecer em terra.


Vincent Van Gogh

sábado, 30 de maio de 2009

Basta ouvir seu coração


O sol quente das manhãs ...As Noites de luar ...A Vida é tudo que se quis, é canto de Amor.Mas de repente não há mais música no ar,E tudo é diferente, do que você sonhou.
Se você sentir a solidão da escuridão,Pense em quem te faz feliz.A amizade tem um querer bem,Que esteja onde estiver, tudo vai ser como é Basta ouvir seu coração.


As lembranças vão surgir, É só você buscar.Abraços e sorrisos que ninguém pode apagar.Ao relembrar histórias que você já se esqueceuNinguém está sozinho,Se não existe Adeus...
Se você sentir a solidão da escuridão,Pense em quem te faz feliz . A amizade tem um querer bem,Que esteja onde estiver, tudo vai ser como é Basta ouvir seu coração.
Há um lugar em você Onde está a alegria de viver.Preste atenção no que esta voz te dizEm seu coração, Você não vai se perder.


Se você sentir a solidão da escuridão,Pense em quem te faz feliz. A amizade tem um querer bem,Que esteja onde estiver, tudo vai ser como é Basta só ouvir ...
Se você sentir a solidão da escuridão,Pense em quem te faz feliz. A amizade tem um querer bem,Que esteja onde estiver, tudo vai ser como é Basta só ouvir ...
Não há solidão, é só ouvir ... seu coração !!!

Certas coisas mexem comigo.Pequenas lembranças do que já passou.Sorriso daquela gente que se foi e estranhamente ainda reflete a mesma alegria do dia em que na minha vida se achegou.Certas coisas reviram meu cérebro.O cheiro da flor permanece muito tempo depois que a pétala secou. Posso senti-lo ainda agora.O sonho atravessou os anos sem concretizar-se e continuo imaginando por imaginar.Meu prazer é residual: habita no passado e reage ao presente sentindo saudade do futuro.Certas coisas fazem com que eu me sinta bem.Olhar o passado e notar que cheguei até aqui.Enfrentar o agora mantendo uma imensa paz no coração, talvez por me permitir amar e ser amado.Não querer nada do futuro além dessa mesma paz consistente em saber que o passado não foi assim tão ruim e os seus frutos são bons.Não ceder ao impulso de ser aquilo que não sou, persistir acreditando na verdade mais do que na mentira, continuar rindo solto das próprias besteiras e compreender que assim é que crescemos: isso tudo me faz muito feliz.Certas coisas moram dentro do meu ser e fazem com que eu seja como sou. Nem melhor nem pior do que a maioria: apenas humano.

E tudo se foi como veio, rápido e superficial trouxe sorrisos e alegria, paixões e reencontros, mas assim como trouxe, levou consigo tudo, como se nada nunca estivesse entrado...Nem as fotos, nem a ressaca nem a falta de voz me recordam a alegria que se fez presente nestes dias, é como se eu tivesse anestesiado e que toda a intensidade destes dias não passassem de um mero sonho, o qual acordei na quarta de cinzas, e tudo continua queimado nenhuma fênix renasceu.Ainda tenho necessidades a serem preenchidas, ainda me falta trabalho, meu sangue ainda é nocivo, ainda falta um algo a mais, que faz com que a vida tenha um sabor diferente, talvez falte paixão...Os sonhos ainda não voltaram a vontade de seguir em frente não está aqui, a vida não voltou ao normal, e não dá mais pra saber quanto tempo tenho que esperar até tudo voltar para os devidos lugares, como era há alguns anos, tenho a sensação que nada passa, que a paciência nunca alcança um objetivo e que até Deus sinônimo de esperança e fé não faz nada mudar....A fase negra está demorando demais a passar, tenho receio que ela esteja no meu sangue como uma doença e não vá sair com uma simples combinação de remédios...Será hora de procurar ajuda fora de mim? Não creio, mais quem sabe um dia ou outro me rendo...


Menino Cachorro da Guatemala


Aceite o desafio e seja você mesmo.O novo às vezes é difícil de aceitar, mas a vida nos ensina que no momento certo o desconhecido se revela como algo desafiador e a partir daí todos os nossos sonhos podem ser realizados. Por quanto embalados por movimentos frenéticos de otimismo, investidos de forças para continuar a crescer, partilhamos de grandes novidades que nos enche de prazer e nos revela o quanto é gratificante sentir os sabores da vitória.






Durante anos procuramos encontrar alguém que nos compreenda, alguém que nos aceite como somos, capazes de nos oferecer a felicidade, apesar das duras provas. Apenas ontem descobri que esse mágico alguém é o rosto que vemos no espelho.





Richard Bach

domingo, 24 de maio de 2009

Momento Romântico


"Chutaria a minha mulher, mas nunca os meus cachorros",


OZZY OSBOURNE

Às vezes construímos pequenos sonhos em cima de grandes pessoas, mas com o passar do tempo, percebemos que grandes mesmo eram os nossos sonhos, e as pessoas eram pequenas demais para eles.A afinidade não é o mais brilhante, mas o mais sutil,delicado e penetrante dos sentimentos.É o mais independente.Não importa o tempo, a ausência, os adiamentos,as distâncias, as impossibilidades. Quando há afinidade, qualquer reencontro retoma a relação, o diálogo, a conversa, o afeto no exato ponto em que foi interrompido.Afinidade é não haver tempo mediando a vida. É uma vitória do adivinhado sobre o real. Do subjetivo para o objetivo. Do permanente sobre o passageiro. Do básico sobre o superficial.Ter afinidade é muito raro. Mas quando existe não precisa de códigos verbais para se manifestar. Existia antes do conhecimento, irradia durante e permanece depois que as pessoas deixaram de estar juntas. O que você tem dificuldade de expressar a um não afim, sai simples e claro diante de alguém com quem você tem afinidade.Afinidade é ficar longe pensando parecido a respeito dos mesmos fatos que impressionam, comovem ou mobilizam. É ficar conversando sem trocar palavras. É receber o que vem do outro com aceitação anterior ao entendimento.Afinidade é sentir com. Nem sentir contra, nem sentir para, nem sentir por, nem sentir pelo. Quanta gente ama loucamente, mas sente contra o ser amado. Quantos amam e sentem para o ser amado, não para eles próprios.Sentir com é não ter necessidade de explicar o que está sentindo. É olhar e perceber. É mais calar do que falar, ou, quando é falar, jamais explicar: apenas afirmar.Afinidade é jamais sentir por. Quem sente por, confunde afinidade com masoquismo.Mas quem sente com, avalia sem se contaminar.Compreende sem ocupar o lugar do outro. Aceita para poder questionar. Quem não tem afinidade, questiona por não aceitar.Afinidade é ter perdas semelhantes e iguais esperanças.É conversar no silêncio, tanto nas possibilidadesexercidas quanto das impossibilidade vividas.Afinidade é retomar a relação no ponto em que parou sem lamentar o tempo de separação. Porque tempo e separação nunca existiram. Foram apenas oportunidades dadas (tiradas) pela vida,para que a maturação comum pudesse se dar.E para que cada pessoa pudesse e possa ser, cada vez mais a expressão do outro sob a forma ampliada do eu individual aprimorado.

A arte alimenta-se de ingenuidades, de imaginações infantis que ultrapassam os limites do conhecimento; é ai que se encontra o seu reino. Toda a ciência do mundo não seria capaz de penetrá-lo.


Os contos de fadas são assim.Uma manhã, a gente acorda e diz: "Era só um conto de fadas..."E a gente sorri de si mesmo.Mas no fundo,não estamos sorrindo.Sabemos muito bem que os contos de fada são a única verdade da vida.
Antoine de Saint-Exuéry

domingo, 17 de maio de 2009

O poder dos sonhos


Os sonhos revelam nossos mais profundos mistérios. O pensamento nativo crê que a alma funciona como uma ponte entre o espírito e o corpo. A alma transpõe a mortada rígida do corpo voando para o infinito mundo do espírito, ultrapassando os limites da fantasia, da imaginação. Poder vivenciar fatos extraordinários num mundo de infinitas possibilidades.

Nos sonhos encontramos seres nunca antes vistos, terras e paisagens e mundos, no conhecido e desconhecido. Voltamos ao passados, encontramos almas queridas que que conviveram conosto neste planeta. Voamos sem limites.
Passamos em média um terço de nossas vidas sonhando. Separamos a vida em acordado e sonhando. Vivemos o sonho como se não fizesse parte de nossa realidade. Uma parte essencial de nossa vida. Vivemos um terço de nossa vida em realidades de múltiplas possibilidades, um mundo invisivel da Terra.
Sonhar lucidamente é construir o próprio destino.

Audácia da pilombeta


Terezinha de Jesus foi ao chão e três cavalheiros prontificaram-se a acudi-la. Com o primeiro teve uma forte identificação intelectual. O diálogo entre eles era como uma partida de esgrima: dinâmico, afinado, elegante. Cérebros gêmeos.
O segundo era o seu oásis. Qualquer que fosse o deserto que Terezinha tivesse de enfrentar, as suas sábias palavras e os seus conselhos lúcidos lhe apaziguavam as inquietudes e lhe renovavam as forças para as difíceis travessias vindouras.
O terceiro lhe proporcionava aquela segurança que só o confiante abandono da infância pode ensejar. Ele vinha de longe, dos dias de sua juventude, e a constância de seus sentimentos dava a Terezinha a certeza de que ao seu lado ela estava em casa.
Mas foi a um quarto cavalheiro que a Tereza deu a mão. Ele não lhe garantiu nada. Nem precisava, porque ela não o escolheu para satisfazer o seu intelecto, ou a sua fragilidade, e menos ainda a sua memória. Ele falou-lhe às entranhas...


... e ela não teve escolha.

Quanto mais elevado é o espírito mais ele sofre





A vida é feita de escolhas. Nós, humanos, temos uma visão um tanto limitada de nossa mísera existência, que se resume ao conhecimento, muitas vezes inconsciente, do passado e do presente. O futuro a Deus pertence, diz a sábia voz do povo. Como, nos dias que correm, a maior parte dos mortais prescinde da presciência de Deus, o futuro não passa de um enorme ponto de interrogação.
No entanto, qualquer que seja a orientação religiosa ou existencial do mais comum dos mortais, fazer escolhas é preciso, porque, no fim das contas, a fila tem que andar. E eis-nos diante de um problema difícil: o de decidir, aqui e agora, o que queremos para o resto de nossas vidas, se é que esta expressão ainda tem lugar nos dias de hoje, em que tudo é relativo.



Relativo demais.







A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade. A dor é inevitável. O sofrimento é opcional.


Carlos Drummond de Andrade

domingo, 10 de maio de 2009

Hamlet em um domingo até que razoável


Chove desde cinco da tarde e eu devia estar satisfeita.Não é o que acontece, pois tem uma festa de criança no prédio ao lado.Torço por domingos com chuva,
mas imaginar um bando de criancinhas socadas num salão fechado, tendo pula-pulas ensopados do lado de fora, tudo por minha culpa, estraga o meu momento.Não
tanto quanto a trilha sonora da festa,que vem violentando meus ouvidos há horas.Então, acho que estamos empatados.Eu e as criancinhas.Posso me deliciar com a
reconfortante sensação de que não há nada mesmo para fazer neste domingo chuvoso, e elas estão perdoadas pelo terrível gosto musical.Quites! Todos com suas
devidas razões para estarem levemente aborrecidos com as coisas.No meu caso específico,aborrecimento não é nem o termo,já que sofro dessa síndrome rara, de
detestar fins de semana.Assim, se começo minha ladainha,dificilmente paro antes de enumerar tudo o que há de insurpotável nos dias.E receio ser tarde demais
para evitar o assunto,agora que já usei adjetivos tão definitivos e rabugentos.Não custa, entretanto, antes, tentar me explicar: não, não sou inspirada pelo
mal estar.Jamais me permitiria ao vão masoquismo de cultivar dores para ser criativa.É claro que eu adoraria estar refestelada em alguma canga,enchendo o
quengo de caipirinha,sem me importar se a música que preenche os espaçosentre os corpos besuntados de protetor solar é vulgar, ou estimula ritmos que
balançam panças e bundas frouxas, sexualizando o que há de menos sensual no mundo.Seria muito mais fácil lidar com o meu tédio natural domingueiro,caso
conseguisse me agrupar em churrascos, eu sei.Mas se eu seria,dessa forma, mais ou menos feliz, não sei.Tornar-me um organismo que se adapta, tipo o que
comemora gols em bares,faria de mim alguem que prefere domingos ensolarados? Seria eu mais feliz se não fosse a que sou,virando adepta do coletivo festivo?
Haveria menos infelicidade,em mim,se eu não percebesse as injúrias cometidas, ou as traições dos interesseiros, e tudo o que o tempo traz de doloroso?Será que, para escapar da dor,devo logo abraçar a euforia da simples alegria de viver, e sair cantando refrões tolos pela própria felicidade da tolice?
Não, obrigada.Prefiro o tédio total ao conformismo preguiçoso da solução pelo coletivo.Prefiro nunca mais ir a festas do que me embriagar da burrice que
alivia.Mil vezes carregar na alma esse vazio,do que tentar moldar situações, e pessoas idiotas, que caibam,por tempo limitado, nesse espaço vago.Que todos
têm de nascença, ninguém escapa, pois, ora bolas, o que dói mesmo é ser sozinho no mundo, e isso é o que todos somos.
Porque amo tanto meu país, e minha lingua, é que me assusto com a capacidade de nos desviarmos do que é premente.Muita alegria escancarada nessas bocas,
sabe? Alguem mais se incomoda com isso, além de mim? Hein? É muito triste sentir-se espírito de porco, em meio a um exército de contentes.Por exemplo,essas
pessoas que fazem dos seus ciclos de separações e casamentos notícias que impulsionam trabalho.Não pode.A não ser, claro, que seu trabalho seja se casar e se
separar.Uma restrição de ordem da estética, não ética.É simplesmente feio ficar anunciando o encontro de almas "gemêas" que dura menos que uma novela.Não é
legal com aqueles que ainda acreditam nessas máximas românticas.Com os humanos normais, que sofrem os términos das relações e se deparam com a facilidade com
que nossas "celebridades" curam suas feridas.Mais uma vez,penso: Será que eu só reparo nisso? Gente estou até hoje tentando me recuperar do fim do meu
primeiro namoro.E esse povo bronzeado e feliz já está, pela centésima vez, anunciando ter encontrado o verdadeiro amor na orla da praia! Sério: o problema é
comigo? Só eu que não sei jogar frescobol neste país? Só eu estou atordoada por tentar educar crianças honestas, numa cultura que premia o oposto?. Enfim, e
se me fosse ofertada a chance de nao sofrer qualquer dor, aliviando os conflitos que a vida me trouxe, os amores que me largaram e deixaram marcas tatuadas
na alma, e consequente solução para esse tal buraco feito no meu peito? Antes de aceitar, hesitaria, como umHamlet desajeitado: caso seja através da lâmina
fria de um punhal, OK, mas se for pra ficar anestesiada em meio ao coro dos contentes histéricos,jamais.


É preciso dor para ser feliz sem ser idiota.


Fernanda Young

sábado, 9 de maio de 2009

Como um mutante...












...No fundo sempre sozinho
Seguindo o meu caminho
Ai de mim que sou romântico!